O degelo anual do oceano Ártico começou neste mês, com uma má notícia: a extensão do mar congelado está entre as duas menores desde que as medições com satélites começaram, há 30 anos.
Cientistas da Nasa que sobrevoaram a região nas últimas semanas relataram à Folha, na Groenlândia, que, além de ocupar área menor, o gelo também deve estar mais fino --e mais suscetível a derreter no verão.
Em cima de tudo isso, um estudo ainda inédito sugere que o encolhimento e afinamento do gelo marinho já está causando o aumento da temperatura do ar no Ártico. Isso porque o gelo de lá funciona como uma barreira entre o mar e a atmosfera. Ele impede que o oceano, relativamente mais quente, transfira esse calor para o ar.
O temor é que surja um círculo vicioso. Quanto mais o gelo derrete, mais calor escapa do mar para a atmosfera, o que leva a mais derretimento, e assim por diante.
O equilíbrio da temperatura no mar e no ar do Ártico, por sua vez, é crucial para manter a estabilidade do manto de gelo da Groenlândia, a segunda maior reserva de água doce do mundo.
Se essa massa de gelo começar a derreter para valer, o principal efeito seria a elevação do nível do mar no planeta todo, o suficiente para inundar muitas áreas costeiras --incluindo as do Brasil.
Já para alguns países do Ártico, haveria algumas vantagens: mais áreas navegáveis sem a barreira do gelo e mais facilidade para explorar reservas submarinas de petróleo e gás natural.
EM BAIXA
Dados da Nasa a serem apresentados pelo Centro Nacional de Dados de Gelo e Neve dos EUA mostram que a extensão do gelo marinho no inverno de 2011 chegou a 14,4 milhões de km2 no final de março. O valor é semelhante ao observado em 2006, ano que teve a menor extensão máxima registrada.
"No ano passado, você quase nunca via aberturas no gelo mais grosso, com vários anos de idade. Agora estamos vendo isso", disse John Sonntag, professor da Universidade de Maryland e um dos coordenadores da operação Ice Bridge, da Nasa, que realiza medições anuais no gelo do Ártico.
O novo estudo, feito por Nathan Kurz, da Nasa, e Sinéad Farrell, da Noaa (Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA), mostra que, entre 2003 e 2008, boa parte do gelo mais grosso (de três metros de espessura) foi substituída por gelo mais fino.
Além disso, a perda de cobertura de gelo no período comprometeu o efeito isolante do oceano Ártico. Em 2007, quando a extensão mínima do gelo marinho na região foi a menor já registrada, o fluxo de calor do mar para a atmosfera foi três vezes maior que em anos anteriores.
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