Revolução Humana do século XXI
Chegou o tempo de levantarmos nossas cabeças e olharmos para o alto, desvencilhar nossos olhares dos mecanismos industriais e repensarmos sobre a insanidade de nossas atitudes. Chegou o tempo de desligarmos as máquinas das fábricas e ligarmos as máquinas da existência.
Se o século XVII levantou questionamentos para os pensadores de seu tempo sobre os modos de produção, o século XXI está escasso de pensadores. Quem, em sã consciência, deixará a rotina de sua empresa para dedicar-se ao pensamento e a buscar soluções para a vida social? Quem, desprovido de interesses econômicos, conseguirá repensar o sistema no qual estamos profundamente mergulhados?
Ainda que encontrar mentes pensantes seja um trabalho de garimpo, é inegável reconhecer que chegou o tempo de dizer-se algo diferente, de propor-se algo diferente.
Os metrôs dos grandes centros estão mais cheios de pessoas e mais vazios de sonhos, de ideais, de vida. As fábricas estão cada vez mais cheias de técnicos, engenheiros, conhecedores das máquinas e mais desprovidas de encontros, de festas, de amores.
Quem poderá contrariar o fato de que nos preocupamos mais com o dinheiro do que com qualquer outra coisa? Quem poderá contrariar o fato de que a maioria dos casais, no pouco tempo em que estão juntos, só discutem sobre os problemas financeiros ou sobre os projetos para se ter mais dinheiro? Quem poderá negar que nossos filhos não nos têm por perto e que a escola tornou-se uma enfadonha prisão, onde professores e coordenadores não sabem o que fazer para compreender os adolescentes?
Chegou o tempo de reconhecermos que os meios de produção do conhecimento estão escassos, vencidos, deteriorados. Chegou o tempo de reconhecermos que o sistema de trabalho e de produção de bens e serviços é insano, pois só tem produzido neuróticos, obsessivos, estressados e depressivos.
Dessa forma, quem poderá negar o fato de que as pessoas acorrem perdidamente para os cultos milagrosos, doam seu dinheiro para as igrejas em troca de soluções sobre as quais elas não conseguem pensar, pois não têm tempo? Quem poderá negar que os casais não se encontram para namorar, mas para se pegar, e que os casamentos estão fundamentados em momentos de prazeres sexuais para aliviar a tensão de uma existência sem sentido? Também fica difícil contrariar o fato de que os sexshops são a mais nova moda da solução mágica para o casal moderno e que o silicone e as plásticas desmedidas tornaram-se objeto de desejo para as mais novas mulheres que já sofrem suas anorexias e bulimias.
Até quando vamos viver robotizados, na concepção de que a vida é limitada demais e que não há outra forma de se enfrentar essa situação?
A verdade é que temos medo do futuro. As taxas de natalidade estão gritando em nossos ouvidos, denunciando que caminhamos rumo ao fim. Não queremos mais filhos. Talvez, inconscientemente, estejamos percebendo que a vida não vale a pena! A verdade é que carecemos de heróis. Vivemos em um tempo em que os idosos são vistos como pobres coitados, vitimados pela falta de beleza estética, quando o fato é que são eles os portadores da sabedoria que poderia nos incitar a buscar o essencial, o belo. São eles, que ao final da vida, compreenderam que aquilo de que mais sentem saudades são das pessoas com quem conviveram, as pessoas a quem amaram, a quem ajudaram.
É tempo de apertar o pause da rotina de produção em série. É tempo de levantar sua mão e gritar o seu nome, único, irreproduzível, singular! Tempo de uma Revolução Humana, onde a vida vale mais, onde o tão batido jargão do "Time is money" dê lugar ao "Time is life", e que nossos filhos nasçam e tenhamos orgulho de tê-los colocado em nosso mundo!
* Élison Santos é psicólogo clínico
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