"Os poetas viajam até o próximo círculo, onde os demônios não são capazes de segui-los e o poder divino, que lhes dá controle sobre o próprio círculo, não permitira que eles partam."
Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que el
"Quem não reage, rasteja"
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
O maior telescópio do mundo
Chile, 2.600 metros de altitude, no meio do deserto de Atacama, um dos lugares mais secos do mundo. Desde 1998, Paranal é o berço de um gigante cercado de siglas: trata-se do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), um VLT (Very Large Telescope) do ESO (European Southern Observatory) — consórcio de 14 países europeus com orçamento de € 135 milhões por ano para astronomia. O atual VLT é formado por 4 telescópios de 8,2 metros, que registram sinais emitidos pelos corpos celestes 4 bilhões de vezes menores que os visíveis a olho nu. Quando peço um exemplo da potência de uma dessas máquinas, o astrônomo sorri e me responde: “Se você enquadrar a Lua, pode ver um homem. Em tamanho real”.
Nesse deserto cheio de antenas, dois novos projetos começam a aparecer. No alto de uma montanha um pouco distante, o ESO constrói um instrumento que, após a inauguração, em 2018, promete revolucionar nossa ideia do Universo: o E-ELT, um gigante de 42 metros de diâmetro, o maior telescópio ótico do mundo. Antes dele, porém, o ALMA estará completo. É preciso percorrer 300 km no deserto e subir a 5,2 mil metros de altura para visitá-lo. Mas vale a pena. Até 2013, serão 66 antenas de rádio de 12 metros de diâmetro (50 dos EUA e países europeus e 16 do Japão, 7 já instaladas). Espalhadas pelo planalto de Chajnantor, vão sondar o espaço à procura de ondas milimétricas e submilimétricas. “O ALMA vai observar a luz, invisível ao olho humano, emitida por objetos frios no espaço. Por exemplo, nuvens cósmicas que gestam novas estrelas, impossíveis de observar com os telescópios óticos”, diz William Garnier, meu guia dentro do ESO.
Quando o projeto estiver concluído, o ALMA terá uma resolução 10 vezes maior que a do telescópio espacial Hubble. Os sinais das antenas vão viajar pelos 16 mil km de fibra ótica até o Centro de Cálculo do telescópio. Lá, já está em funcionamento o supercomputador mais potente do mundo — capacidade de 150 mil PCs — que irá fazer os bilhões de cálculos necessários por segundo. A disposição das antenas no imenso planalto não é fixa: os receptores podem se agrupar todos em um círculo de 250 metros de raio ou se espalhar em 1,6 km. Na configuração mais extensa, o telescópio tem um diâmetro de 15 km. Para deslocar antenas de 100 toneladas cada, a empresa alemã Scheuerle construiu dois caminhões gigantescos com 28 rodas, que consomem 16 litros de diesel por km.
Liz Humphreys, astrônoma de Cambridge que estuda buracos negros um milhão de vezes maiores que o Sol e galáxias com planetas em formação, não esconde o seu entusiasmo com o trabalho no ALMA. Duas madrugadas atrás, ela viu uma estrela morrendo assim como vai acontecer com nosso Sol — em um futuro, espera-se, muito distante. “Eu acredito que o ALMA vai nos permitir enxergar muito longe, tanto no espaço quanto no tempo”, diz Humphreys. Segundo ela, seria possível analisar a poeira cósmica emitida um instante depois do Big Bang, por exemplo. “Acima de tudo, poderemos realizar algo muito mais importante: procurar em outras galáxias moléculas de elementos associados à presença de vida.” E essa, sim, seria uma revolução.
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