Metamorfose de mãe
Quando ele nasceu
ela só queria ser mãe.
Quando ele deu seu primeiro passo
ela só queria ampará-lo.
Quando ele falou
ela só queria escutá-lo.
Quando ele cresceu
abriu-se nela um abismo.
Quando ele se tornou comunista
ela só queria persuadi-lo.
Quando a ditadura o levou
ela só queria morrer.
Quando ele desapareceu
ela só queria encontrá-lo.
Quando a noite engoliu seu corpo
ela só queria reinventar o dia
e acreditar que tudo era mentira.
Passou a gritar as luzes
nos necrotérios e nos quartéis
nos tribunais e repartições
nos comitês e nas reuniões
nas praças e nas ruas.
E quando comia o pão da amargura
e bebia o vinho da ausência,
enquanto aprendia a dura pedagogia
da militar prepotência,
nem percebeu a metamorfose
que acontece naqueles que buscando os outros
encontram a si mesmos:
Hoje ela não quer mais
nem a bandeira da tristeza
nem a impossibilidade da alegria,
ela agora só quer
aquilo que seu filho queria.
Mauro Iasi
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